MOSAICO DO VINI

Muitas vezes um caquinho não tem significado, mas junto com outros pode compor uma bela imagem

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

SETEMBRO VINI NA ESCOLA



Vinícius jogando jogo da velha
Setembro 2011

04 OUTUBRO 2011 (Kita: carta à Mariana)2

Carta à Mariana

Oi Mariana
A mentira está bem engraçada, sempre é por uma vantagem, geralmente para a geladeira. Agora também quando vai dormir, ele quer ficar brincando no quarto, eu digo para ele que é hora de dormir, ele deita, fica quieto, em alguns minutos pede água... no inicio caia na lábia dele e ia buscar água. Quando voltava a luz estava acesa e ele pulando na cama, com aquela carinha sapeca.

A escola anterior tinha proposta Montessoriana e a atual utiliza o método Pitágoras. Como ele gosta muito de atividades de escrita, livros, jogos, ele se interessa muito pelas atividades propostas na escola atual. A Liliane, que estava na escola anterior, está acompanhando ele nesta também. Ela procura ajudá-lo fazendo a intermediação com a professora. Mas acho que ela precisa de mais capacitação e por isso a escrevi no workshop I, novamente. Ela tem muito potencial.

A escola anterior mantinha atividades muito restritas, como p.e. só faziam atividades em sala de aula, era quente, poucos atrativos, os exercícios eram sempre os mesmos e não do interesse dele. A professora tentava impor as atividades e algumas vezes não permitia que ele saísse da sala. Nos últimos temos ele andava muito irritado. Sempre procurei manter um bom dialogo com a escola, mas no final ficou muito desgastante pra mim, porque não via  nada acontecer efetivamente.

Uma coisa que acho interessante nesta escola, é que a professora escreve no quadro a rotina do dia, ele presta atenção. Tem ficado mais tempo na sala de aula, nunca é impedido de sair, as vezes quando a turma está muito barulhenta, ele pede para ir ao parque, e a Liliane leva.

A rotina é estruturada da seguinte maneira: chegada na sala dos alunos, tempo para confraternizarem; atividades escolares (uso de livro, folhetos, quadro), intervalo pro lanche, tempo na pracinha, volta à sala, roda de história. Terças aula de arte, quarta educação fisica (não participa por causa do apito), quinta informática.
Vejo que eles têm uma grande preocupação com o aprendizado da escrita, o que no caso dele, adora.

A professora faz um trabalho com as outras crianças para que eles se sintam responsáveis pelo Vini e ajudam ele a prestar atenção, quando é a vez dele de fazer algo, eles chamam o Vini. Na turma dele tem uma menina, com algum distúrbio que afeta a fala, a flexibilidade (birras quando contrariada). Ela é apaixonada pelo Vini, acho que é porque é o único que não diz pra ela que é linda, ela está sempre atrás dele, e as vezes ele aceita compartilhar atividades juntos.

Vou mante-la informada sobre todas as etapas desta estratégia para alcançarmos nosso Vini. Gostaria muito de colocar sua mensagem o blog do Vini (http://www.mosaicodovini.blogspot.com), você autoriza?

Não sei como será o tempo de vocês aqui em Belém durante o workshop, mas gostaríamos muito de recebê-los em nossa casa para uma confraternização.

Grande abraço pra ti e tua linda família
Kita

Resposta da Mariana
Boa tarde!
Agradeço pelas informações detalhadas sobre a rotina do Vini na escola. Acho que as estratégias que eu sugeri no email anterior poderão ser úteis. Por favor, mantenha sim contato para me informar sobre o processo de aplicação das estratégias.

Quanto à mentira, que delícia perceber que o Vini está desenvolvendo esta malícia social. Hoje em dia, se você pega a água para ele na hora de dormir, ele bebe? Se ele nem bebe a água, eu começaria a explicar para ele que se ele quer ficar acordado e não beber água, ele pode falar que quer ficar acordado. O que não significa que deixará de ser hora de dormir. Ele pode se expressar, mas você pode agradecer a clara comunicação e mesmo assim explicar que é hora de dormir. Abraços, Mariana

30 SETEMBRO (Kita: carta à Mariana)


30 de Setembro 2011 - Carta à Mariana

Oi Mariana, tudo bem com vocês?

Venho aqui falar um pouco de minhas aflições com o Vinícius. Continuamos com o Programa todos os dias com ele, ele está avançando na linguagem (aumento de vocabulário, frases simples e diálogos simples), na interação (veja filme da escola) e imaginação (mentir).
 Mas com a mudança da escola em agosto, Vinícius passou por alguns momentos de estresse. Apesar de ele ter adorado a escola nova, ficou mais hiperativo que nunca. Voltou a fazer estereotipias que ele já havia perdido no inicio do Programa, como girar rodinhas e ligar e desligar ventiladores. Não mudamos nossas atitudes com ele, e voltamos a fazer tudo que fazíamos no inicio, quando ele parou. Tanto que um dia arrecadei todas as coisas redondas da casa e levei para o quarto da alegria, ficamos 10 min girando tudo, até ele se interessar por mim novamente. Estou procedendo certo? Tem alguma sugestão?
Também começou a prestar atenção em imagens da TV, ele pergunta "o que é isso", respondemos, e ele sai correndo e procura em casa ou na rua o objeto correspondente (p.e. porta, janela, lua, carro, poste de luz, etc..). O que parecia ser algo legal, porque aumentou muito o vocabulário, virou um grande estresse. Quando não somos rápido o suficiente para falarmos o nome do objeto, antes que ele suma da TV,  ele fica muito frustrado e chora compulsivamente. Desligo a TV e levo para o quarto dele e ficamos lá tentando acalmá-lo. É muito angustiante ver essa frustração..o que podemos fazer para ajuda-lo?
 Desculpe o desabafo, mas realmente preciso de idéias para trabalhar melhor isso
 Grande abraço
Kita

Resposta da Mariana Tolezani- Diretora da Inspirados pelo Autismo
Querida Kita,
Que bom ouvir notícias de vocês, muito obrigada!
Assisti ao vídeo do Vini na escola e chorei quando vi a interação dele no jogo e o sorriso quando a professora disse que ele havia ganhado. Que lindo vê-lo participando e feliz naquele momento! Estou com saudades dele!

Que ótimo que vocês continuam um programa diário com ele e que maravilha que ele se desenvolveu tanto nestes últimos meses, tanto na linguagem, como na interação e imaginação! Uau, ele está mentindo para ganhar alguma vantagem?

Quanto à volta das estereotipias desde que ele mudou de escola, eu permitiria e me juntaria a esses comportamentos, como vocês vêm fazendo. A mudança de rotina fez com ele tivesse que lidar com muitas situações imprevistas por ele, o que provavelmente levou ao estresse pela sensação de perda do controle que ele já havia adquirido em relação à rotina anterior. Eu procuraria oferecer a ele:
* muito controle para ele nesse momento em suas sessões em casa (ele sentir que tem o controle);
*explicações da rotina diária e semanal (aliadas a um quadro visual de rotina);
*opções para ele escolher, tanto na alimentação, como nas peças de vestimenta, nas atividades em casa, e inclusive até certo ponto na escola;
*atividades físicas para ele descarregar e se acalmar
*ter um mediador na escola que aja como intermediário nas relações entre o Vini e os colegas, e o auxilie em quaisquer adaptações necessárias na escola, como o ambiente físico, os materiais escolares, e o equilíbrio entre o estilo responsivo e diretivo de interações. Se Vini precisar se engajar em ismos na escola, que ele tenha espaço para isso. Dependendo do grau de distração que o ismo for para as outras crianças da sala, podemos sugerir que Vini fique naquele momento no fundo da sala ou até que saia um pouco da sala com o mediador para fazer sua integração sensorial. Investigar o ritmo individual de Vini e estar atento para sugerir a ele “intervalos” integrados à rotina da classe para que ele possa se levantar, tomar água, mexer o corpo apagando o quadro, levando um livro para a professora, sendo o ajudante da classe, etc.

*conversar com ele sobre os acontecimentos do dia na escola, sobre as professoras e sobre os colegas, sobre os aprendizados e as tarefas.

Ele continua acompanhando bem as questões acadêmicas agora nesta nova escola? A metodologia de ensino-aprendizado utilizada por esta escola é diferente da antiga? Você consegue identificar diferenças metodológicas?
Os colegas têm recebido a presença de Vini sem julgamentos? Quem tem feito o intermédio das relações entre eles?

Quanto à identificação do que aparece na TV, que ótimo que ele está interessado em encontrar objetos em casa que foram representados na telinha! É como se ele estivesse aumentando os registros de sua biblioteca visual e verbal! Eu procuraria assistir com ele com uma atitude de muita leveza e entusiasmo. Quando vocês não tivessem tempo para ver o objeto, para identificá-lo e nomeá-lo, ou não tivessem o objeto em casa, poderiam fazer uma anotação em um papel na frente do Vini, de forma sincera e entusiasmada, desenhando o que tinham visto, ou anotando o nome do programa onde tinha passado, registrando a informação que pudessem. Quando ele chorasse, eu ofereceria uma resposta mínima, lenta e calma, demonstrando para ele não entender por que ele estava chorando já que chorar não o ajudaria a conseguir o que quer, que é aquela informação “X”. Em outras situações em casa, eu procuraria ser o modelo social da flexibilidade quando não conseguimos algo que queremos, por exemplo, uma informação que não conseguimos obter. Dois adultos em casa poderiam atuar demonstrando para ele que um queria uma informação (ou objeto) que o outro não tinha, e ambos permaneceriam confortáveis e calmos na situação, encontrando alternativas ao que não tinham naquele momento.  Eu também procuraria, neste momento, fazer com que o Vini tenha mais acesso a DVDs ou programas gravados do que ao vivo, para que vocês pudessem congelar a imagem e voltar quando desejado.

Se ele continuar tendo bastante dificuldade para lidar com estes momentos na TV ao vivo mesmo com a resposta lenta e calma de vocês ao choro dele, eu restringiria um pouco mais o acesso à TV até que ele estivesse mais pronto para lidar com a experiência. E brincaria de identificar objetos dentro de casa, sem a TV ligada, talvez com o apoio de fotos e desenhos, gincanas de adivinhação e identificação de objetos.

Ah! Lembrei de uma observação que gostaria de fazer. Adorei a atitude positiva, animada e carinhosa da pessoa que celebrou o Vini durante o “jogo da velha” na escola. Eu apenas sugiro que, nos jogos de competição, valorizemos a participação mais do que o fato de ganhar ou perder, não apenas para o Vini, mas para todas as crianças da sala. Queremos que o Vini compreenda perfeitamente o mecanismo do jogo, e que sinta prazer em jogar, seja ganhando ou perdendo. Todos seriam celebrados por suas participações!

Kita, por favor me fale sobre o que acha das sugestões de estratégias e se tem alguma dúvida. Eu adoraria saber notícias durante o processo de aplicação destas estratégias ou de outras que vocês venham a escolher para estas questões discutidas.
Nos veremos em breve! Eu adoraria rever o Vini e o Adriano!
Muito obrigada pela divulgação do workshop que vocês vêm fazendo em seu estado! E parabéns pelo trabalho com a ONG AMORA!!!

Abraços,
Mariana